Defensora dos "livros como melhor arma para salvar o cidadão", a professora Marilena Ferreira Umezu foi a primeira pessoa a ser baleada na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano (SP), na manhã desta quarta-feira.
Os dois autores do massacre, um rapaz de 17 anos e outro de 25, eram ex-alunos da escola. A professora sorriu ao revê-los cruzando o portão de entrada do colégio onde trabalhava há mais de 10 anos.
Eles responderam com tiros.
São estas as informações preliminares da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e de amigos de Marilena Umezu sobre o ataque ao colégio.
"Os portões estavam abertos e eles foram recebidos pela coordenadora. Eles entraram na escola, atiraram na coordenadora, depois numa segunda funcionaria e depois nos alunos", disseram as autoridades de segurança paulistas em entrevista coletiva na tarde desta quarta.
O saldo do ataque, até a publicação desta reportagem, é de 10 mortos - incluindo os dois autores do massacre, que se suicidaram - e nove feridos, que foram levados para hospitais da região.
Além destes, centenas de alunos, professores e pais estão em estado de choque e tentam entender o que aconteceu.
"A gente está abaladíssimo e os alunos estão desesperados", diz à BBC News Brasil a professora de português Elo Ferreira, que trabalhou durante uma década com Marilena.
"Ela não era um alvo específico. Era uma pessoa dedicada, querida e fazia tudo pelos alunos. Vivia a educação com intensidade e era generosa, colaborava com coordenadores de outras escolas da cidade", conta.
O choque também é fruto das imagens do massacre, compartilhadas à exaustão em grupos no WhatsApp. Segundo uma aluna, Marilena aparece cercada por uma poça de sangue em um dos vídeos mais compartilhados.
'Porte de livros'
Alunos confirmam a descrição da professora, que dava aulas de filosofia para o Ensino Médio e foi promovida a coordenadora pedagógica graças à boa relação que mantinha com estudantes e outros professores.
"As únicas lembranças que tenho são dela sorrindo", diz o ex-aluno Gustavo Santiago, hoje com 20 anos. "Entre os professores no Raul Brasil, ela era uma das com quem me dava melhor, uma das professoras mais queridas", conta.
Em seus perfis em redes sociais, a professora compartilhava fotos abraçadas às duas netas, a quem descrevia como "meus presentes" e "minhas preciosas".
Em 19 de janeiro, Marilena tocou no assunto dos armamentos ao compartilhar uma imagem em seu perfil.
Dizia o texto: "Somos a favor do porte de livros, pois a melhor arma para salvar o cidadão e a educação".
Enquanto estava fora de sala de aula, costumava ser vista na biblioteca, onde aproveitava o tempo livre para aconselhar alunos ansiosos com o vestibular.
"Eu vivia na biblioteca e [ela] sempre foi uma pessoa feliz. Sempre dizia para estudarmos e focarmos no que vinha depois do Ensino Médio", conta a ex-aluna Isabela Olivetto, que hoje tem 25 anos e ainda chama a antiga professora carinhosamente de "tia Marilene".
"Ela gostava de ver que os alunos daquele terceiro ano estavam se esforçando bastante para entrar nas [universidades] federais e estaduais", recorda.
Além das duas netas, a professora deixa marido e filhos.
O que se sabe até o momento
Antes de invadirem a escola, os dois jovens balearam Jorge Antonio Morais, dono de uma locadora de carros onde roubaram o veículo usado para chegar à escola.
Essa primeira vítima passou por cirurgia na Santa Casa em Suzano, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Minutos depois do assalto, segundo a Polícia Militar de São Paulo, os jovens Guilherme Taucci Monteiro, 17, e Luiz Henrique Castro, 25, entraram pela porta da frente da escola onde ambos estudaram. Ali, mataram a tiros a coordenadora Marilena e a funcionária Eliana Regina de Oliveira Xavier.
O ataque foi feito durante o intervalo, quando os alunos se concentram fora das salas de aula. No horário do crime, só havia estudantes do ensino médio na escola.
Em seguida, a dupla se encaminhou até o pátio da Professor Raul Brasil, onde atiraram em cinco alunos. Na sequência, se dirigiram ao centro de línguas dentro da escola, mas estudantes conseguiram se trancar na sala com a professora.
Foi neste momento, segundo a polícia, que os dois autores do massacre se suicidaram em um dos corredores da escola.
"É um atentado de alguém que não tem o domínio de suas próprias faculdades", afirmou Marcelo Vieira Salles, comandante-geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
Segundo o secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, o general João Camilo Pires de Campos, a Força Tática da Polícia Militar chegou à escola cerca de oito minutos depois do início do ataque.
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