O Mercado Central, ponto de referência para compras no varejo e atacado, em João Pessoa, também se tornou referência para compra e consumo de drogas. O tráfico e a presença de viciados no local se intensificou depois que a polícia desativou uma cracolândia nas ruas Irineu Pinto e Duarte Lima, no Centro da Capital, que durante anos desafiou a segurança pública do Estado, por ficar a poucos metros do Comando Geral da PM e da antiga Central de Polícia. Ontem, após denúncias, a reportagem do CORREIO constatou a existência de uma nova 'cracolândia', desta vez instalada dentro do Mercado Central.
Com a estratégia imposta pelos traficantes de que nenhum viciado pratique roubos ou furtos dentro do Mercado, a cracolândia passou a funcionar de forma silenciosa, embora nada discreta, por conta da intensa movimentação de pessoas entrando e saindo do local. “Quando existia o posto de polícia aqui no mercado e os traficantes não estavam instalados aqui, todo dia eu chegava e percebia que algum objeto, ou mais de um, havia sido furtado. Quando a polícia saiu e o tráfico veio de vez pra cá, foi imposta essa regra de não roubarem aqui, porque os traficantes não querem tumulto ou movimento de polícia na área, para não atrapalhar eles. Os ‘noiados’ temem mais aos traficantes do que a polícia que antes atuava aqui”, disse um comerciante, que não quis ser identificado.
Dessa forma, os usuários começaram a construir barracos com peças de madeira, na área destinada ao coletor de lixo da Emlur. Um local para onde os servidores da autarquia de limpeza levam o lixo recolhido do mercado, para coleta no fim do dia. Quem chega nesse ponto, percebe uma espécie de favela se formando, dando a ideia que se trata de uma ocupação ilegal, feita por moradores de rua. Mas permanecendo alguns minutos no local, se percebe o intenso movimento de pessoas entrando e saindo das barracas, se aparência de morador de rua.
Pacto de convivência. Embora os relatos são de que os roubos e furtos acabaram dentro do mercado e que traficantes e usuários não mexem com ninguém, dentro do local, há na reação dos comerciantes à presença da reportagem um flagrante clima de medo. Medo de que os usuários ou traficantes percebam que estão conversando com repórteres e falando sobre o assunto. “Aqui passou a valer uma espécie de pacto de convivência. A gente fica na da gente e eles ficam na deles. Ninguém interfere na atividade de ninguém”, acrescentou um dos entrevistados.
Outro comerciante contou que viu a cracolândia começar a se formar e reclamou da falta de intervenção do poder público. “Isso aí se quando eles tivesse construído a primeira barraca, a prefeitura tivesse vindo e derrubado, não teriam se formado isso. Mas deixaram e agora tá crescendo a cada dia. O jeito é a gente fingir que não vê o que acontece”, disse.
MOVIMENTO ATÍPICO NA ÁREA
Nos relatos de comerciantes sobre o tráfico de drogas no Mercado Central a recorrentes lembranças da movimentação atípica de pessoas, sem perfil de feirante. O mais comum é jovens bem vestidos, alguns acompanhados de belas moças, que vão até os bancos guardados da feira e fazem todo o trajeto montado em motos, demoram poucos segundos e saem.
“Final de semana aqui a gente só vê as motos entrando e saindo. Eles vão lá dentro, compram a droga e saem. Isso mostra que a venda de droga aqui já está conhecida e esse povo tá vindo de longe comprar aqui”, disse um comerciante.
Arrombamentos. A atividade da compra e venda de drogas dentro do Mercado Central, somada à determinação dos traficantes proibindo ilícitos dentro do mercado tem seus efeitos no comércio das ruas que ficam próximas ao local.
Um deles é a constante onda de arrombamentos de estabelecimentos durante a madrugada. Uma das últimas vítimas foi a própria prefeitura. Na madrugada da última sexta-feira, dia 29, o Instituto de Previdência Municipal de João Pessoa, que fica a três quadras do Mercado Central, foi invadido por dois homens. Dentro do prédio, os suspeitos tentaram arrombar um carro e o baú de carga de duas motos que estavam na garagem.
Um guarda civil que fazia a segurança do local percebeu a ação e ainda conseguiu deter um dos homens, que foi levado para a Central de Polícia, no Geisel, e não teve sua identidade divulgada.
Ali é o lugar que eles fizeram para fumar pedra (de crack). Como não podem roubar aqui, eles saem pelo Centro e praticam roubos em locais afastados. Depois vêm com o produto do roubo e trocam por pedra ali, perto da feira do milho, onde ficam guardados os bancos da feira. Lá é a área dos traficantes. Depois que compram a droga, eles vêm ali nessas barracas do coletor". Comerciante que não quis se identificar.
O QUE DIZEM PM E SEDURB
O CORREIO procurou os órgãos públicos cujas atividades têm relação com o assunto. O comandante do Policiamento Metropolitano da PM, coronel Lívio Sérgio Delgado, disse que a polícia fez uma intervenção recente, em uma ocorrência de roubo e prendeu um suspeito. Sobre a cracolândia e atividade do tráfico no mercado, o oficial sugeriu que fosse ouvido o comando do 1º Batalhão, responsável pelo policiamento da região central da Capital, mas a reportagem não conseguiu contato com o major Lucas Estevão, comandante da unidade.
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb), responsável pela administração dos mercados públicos de, informou que vai planejar uma ação para resolver o problema.
Hoje ainda vou enviar ofícios à Polícia Militar e à Secretaria de Segurança Pública, para fazermos uma ação conjunta. Eles farão a parte deles de combater o tráfico e nós faremos a nossa de retirar essa ocupação e fazer a limpeza do local. Também vou acionar a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) para ver o que é possível fazer em favor dessas pessoas que estão vivendo e se drogando no local". Zennedy Bezerra. Secretário da Sedurb. Portal Correio
0 Comentários