O governo brasileiro não incluiu o jornal "Folha de S.Paulo" entre os veículos selecionados para cobrir neste sábado o jantar entre os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e dos Estados Unidos, Donald Trump, no resort de Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Flórida. Com isso, todas as maiores empresas de comunicação brasileiras estiveram credenciadas para o evento, com exceção da “Folha”.
Na sexta-feira, o Itamaraty telefonou para os jornalistas selecionados para participar da cobertura pedindo informações, como país e data de nascimento, que seriam enviadas ao governo americano para permitir o acesso dos selecionados ao resort. A “Folha de S.Paulo” deixou de ser contatada, o que não ocorreu com outros veículos, incluindo os de circulação local.
Foram incluídos no grupo de jornalistas para cobrir o evento repórteres de quinze veículos, entre eles os jornais O GLOBO e "O Estado de S.Paulo"; as agências Reuters, Bloomberg e Empresa Brasil de Comunicação (EBC); as emissoras de TV Globo, Band, Record e SBT; as rádios Jovem Pan e Metrópoles e o portal da BBC Brasil.
A BBC Brasil também não havia sido contatada até o fim da tarde de sexta-feira. Depois de entrar em contato com o governo, o nome da repórter do veículo foi incluído no pool. A "Folha" também acionou o governo para pedir sua inclusão. A Secretaria de Comunicação (Secom) do Palácio do Planalto afirmou que tentaria reverter a situação incluindo a "Folha", mas, até a tarde deste sábado, uma hora antes da partida da viagem que levará os jornalistas até Mar-a-Lago, o governo ainda não havia confirmado a inclusão.
O Itamaraty e a Secom do Planalto realizaram um briefing neste sábado para dar informações logísticas sobre a cobertura do evento. A pasta das Relações Exteriores afirmou que a lista com os veículos a serem incluídos é definida pelo Planalto.
A representante da Secom afirmou que o critério utilizado considerou veículos que fazem a cobertura diária da Presidência da República. A "Folha de S.Paulo" participa dessa cobertura diária. A pasta também afirmou que outro critério utilizado foi a velocidade com que os jornalistas responderam aos pedidos de informações para a viagem, porém a "Folha" não foi informada sobre a necessidade de enviar essas informações, ao contrário dos outros veículos.
Em nota, o jornal afirmou que "a Presidência mais uma vez discrimina a Folha, o que já se tornou um método de perseguição" e defendeu que "continuará cobrindo esta administração de acordo com os padrões do jornalismo crítico e apartidário que o caracteriza e que praticou em relação a todos os governos".
Desde a campanha eleitoral de 2018, antes de chegar ao Planalto, Bolsonaro e seu entorno têm feito frequentes críticas e ataques à "Folha de S.Paulo". Quando ainda era candidato, Bolsonaro se irritou com uma reportagem do jornal sobre disparos de mensagens em massa via WhatsApp que teriam sido feitos em prol de sua candidatura. Em fevereiro passado, por causa da mesma matéria, o presidente insultou uma repórter do veículo com uma insinuação sexual. Em novembro do ano passado, ele excluiu o jornal de uma licitação de periódicos para o governo federal, mas voltou atrás após reação de autoridades e setores da imprensa. Há pouco mais de uma semana, em episódio mais recente, Bolsonaro pregou um boicote de anunciantes à "Folha" e outras empresas.
Diário da Paraíba com O Globo
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