O presidente Jair Bolsonaro fez um pronunciamento nesta quinta-feira (16) no Palácio do Planalto no qual anunciou o oncologista Nelson Luiz Sperle Teich como novo ministro da Saúde.
Nelson Teich assume o cargo em meio à pandemia do novo coronavírus. Ele substituirá Luiz Henrique Mandetta.
O novo ministro chegou a Brasília na manhã desta quinta e se reuniu com Bolsonaro no Palácio do Planalto. O presidente também se reuniu com Mandetta posteriormente.
"Não condeno, não recrimino e não critico o ainda ministro Mandetta. Ele fez aquilo que, como médico, achava que devia fazer ao longo desse tempo. A separação, cada vez mais, se tornava uma realidade. Mas não podemos tomar decisões de forma que o trabalho feito até o momento fosse perdido. O que eu conversei ao longo desse tempo com o oncologista doutro Nelson, aqui ao meu lado, foi fazer com que ele entendesse a situação como um todo", afirmou o presidente.
"O que conversei com doutor Nelson? Que gradativamente nós temos que abrir o emprego no Brasil. Essa grande massa de humildes não tem como ficar dentro de casa", acrescentou.
Em outro trecho, o presidente concluiu:
"Neste momento, além de agradecer o senhor Henrique Mandetta por sua cordialidade e como conduziu o ministro, agradeço o doutor Nelson por ter aceito esse convite. Ele sabe do enorme desafio que terá pela frente".
>> Leia mais abaixo o perfil de Nelson Teich
Ex-deputado federal, Mandetta comandava a pasta desde janeiro de 2019, quando Bolsonaro tomou posse. Na tarde desta quinta, o agora ex-ministro informou ter sido demitido pelo presidente.
No pronunciamento, Bolsonaro disse que, desde o começo da pandemia, se dirigiu a todos os ministros para falar sobre "vida e emprego". "É como um paciente que tem duas doenças. A gente não pode abandonar uma e tratar exclusivamente outra, porque no final da linha esse paciente pode perder a vida", declarou.
Divergências de Bolsonaro e Mandetta
Nas últimas semanas, Mandetta e Bolsonaro passaram a divergir publicamente sobre algumas medidas de combate ao coronavírus, como o isolamento social.
Enquanto Mandetta defende o isolamento, assim como orientam a Organização Mundial de Saúde (OMS) e os especialistas, Bolsonaro pede a "volta à normalidade", o "fim do confinamento em massa" e a reabertura do comércio, de lotéricas e de igrejas.
Desde que começaram essas divergências, Mandetta passou a dizer, quando questionado se deixaria o cargo, que "médico não abandona o paciente". Bolsonaro, por sua vez, passou a dizer que "médico não abandona o paciente, mas o paciente pode trocar de médico".
Além disso, Bolsonaro foi a um ato na Esplanada dos Ministérios a favor do governo, passou a sair para ir a padarias e a farmácias em Brasília e passou a cumprimentar grupos de pessoas, gerando aglomerações e contrariando as orientações das autoridades de saúde.
Em uma entrevista ao Fantástico, no último domingo (12), Mandetta chegou a dizer que o brasileiro "não sabe se escuta o ministro ou o presidente".
Perfil do novo ministro
Nelson Teich foi responsável nos anos 1990 pela fundação do Centro de Oncologia Integrado (Grupo COI), onde atuou até 2018. Atualmente, segundo o perfil dele em uma rede social, trabalha como consultor em gestão de saúde.
De setembro do ano passado até janeiro deste ano, também de acordo com o perfil, Teich prestou orientações à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos em Saúde (SCTIE) do Ministério da Saúde, comandada por Denizar Vianna.
O novo ministro é formado em medicina pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Teich foi residente de Oncologia no Instituto Nacional do Câncer. Na sequência, focou sua formação na área de gestão da saúde, ao cursar um MBA na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um mestrado na Universidade de York (Reino Unido) voltados para o tema.
Em 2010 e 2011, ele prestou consultoria para o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, também focada em gestão da saúde. Teich foi um dos sócios-fundadores do MDI Instituto de Educação e Pesquisa, onde foi sócio do atual secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos em Saúde (SCTIE) do Ministério da Saúde, Denizar Vianna.
Nas últimas semanas, o oncologista tem utilizado rede social para compartilhar artigos que escreveu sobre o coronavírus.
Em 24 de março, no artigo intitulado "COVID-19: Histeria ou Sabedoria?", o médico destaca as dificuldades enfrentadas pelo gestor de saúde em meio à pandemia e cita pontos que devem ser considerados nas tomadas de decisão.
"Não me coloco aqui como alguém que defende um lado ou outro, na verdade é o oposto, não pode existir lado. O fundamental é analisar criticamente e de forma contínua a situação e as projeções, integrando continuadamente a nova informação na análise. A informação que chega a cada dia precisa ser complexa, detalhada e em tempo real. É necessário rever diariamente a realidade, os cenários, as projeções e as ações. Como comentado, projeções e posições radicais e emocionais só levam a mais confusão e problema", diz.
Em um segundo artigo, " COVID-19: Como conduzir o Sistema de Saúde e o Brasil", publicado em 2 de abril, o gestor de saúde afirma que a crise provocada pelo coronavírus demanda uma gestão centralizada e estruturada, que inclua o sistema público (nas esferas federal, estadual e municipal), a saúde suplementar e a iniciativa privada. Ele destaca também a importância do alinhamento entre os três Poderes.
Isolamento
No texto, Nelson Teich defende a importância de medidas como o isolamento social, a testagem em massa e o uso de projeções matemáticas no enfrentamento da pandemia.
" Além do impacto no cuidado dos pacientes, o isolamento horizontal é uma estratégia que permite ganhar tempo para entender melhor a doença e para implantar medidas que permitam a retomada econômica do país".
Diário da Paraíba com G1
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