No dicionário da Língua Portuguesa, o substantivo ‘ninho’ é descrito como um local onde alguns animais colocam seus filhotes para deixá-los protegidos. O verbo ‘saber’, por sua vez, significa ‘ter conhecimentos específicos’. Na cartilha da Prefeitura de João Pessoa, as 18.143 crianças matriculadas nas creches e pré-escolas têm aprendido que ‘Ninho do Saber’ quer dizer cuidar e educar. Amor também é uma tradução perfeita para quem conhece uma dessas unidades mantidas pela rede municipal de ensino.
O Ninho do Saber é uma instituição de ensino infantil que oferece educação e cuidado para crianças. O local pode ter diferentes unidades, como berçário, creche ou escola infantil. Nele, há muitos bons motivos para comemorar o Dia das Crianças. E sabe por quê? Porque lá é um ambiente de amor, carinho, aconchego e apoio.
E quem concorda com essa classificação em todos os gêneros em que ela é apresentada é a professora Isabelle Fernandes. Mãe do pequeno Daniel, de 3 anos, ela não aparece nas fotos feitas por nossa reportagem. Afinal, é uma trabalhadora pontual e eficiente e não pôde estar presente no Ninho do Saber Olga Maria Leite de Figueiredo, no bairro do Ernesto Geisel, quando estivemos lá para conferir de perto toda a estrutura oferecida aos pequeninos e suas famílias.
A conversa com Isabelle foi por telefone, momento em que ela contou que sua vida certamente não seria a mesma sem o Ninho do Saber que, para além de um lugar onde seu filho passa o dia, é uma verdadeira rede de apoio para ela.
“Eu trabalho o dia todo. Minha mãe é idosa e não pode cuidar dele e se não tivesse [o Ninho do Saber] realmente seria muito difícil, porque eu teria que parar de trabalhar, porque berçário particular é muito caro e não daria para pagar. Daniel começou a ir para a creche com oito meses de idade. Era bem bebezinho. E vai ficar até o final do ano que vem ainda. Ele é muito bem cuidado aí”, exclama.
A voz de Isabelle ao telefone deixa claro a alegria que ela sente ao ver o cuidado que a rede municipal de ensino tem tido com as crianças desde que elas nascem. “Na instituição são trabalhadas muitas atividades e eu não tenho dúvidas que essa base que ele está formando, na educação infantil, em uma instituição da prefeitura, será uma base que vai ajudá-lo muito daqui para frente, porque como eu sou professora, eu não abro mão desse momento dele até o final do maternal dois, por achar importante tudo que é feito aí”, encerrou a mãe de Daniel.
Criança feliz – A tarefa de descrever sentimentos não é das mais simples. Como relatar as sensações provocadas por um abraço forte e inocente de uma criança? De repente você está parada em pé e uma pessoinha linda de apenas 3 anos de idade corre e te abraça sem nunca ter te visto antes.
Será que sinceridade pode desvendar o significado disso? Ou seria mesmo… [cinco minutos depois]... Não, definitivamente o dicionário não contém palavras que transmitam a mensagem que quero passar agora.
Aquele olhar carinhoso e meigo, os cachinhos bem penteados, a alegria transmitida no sorriso daquela menina no momento do abraço, isso só vendo de perto para conseguir definir o que é estar dentro de um Ninho do Saber da Prefeitura de João Pessoa, onde a felicidade não é coisa inventada, é, ao contrário, bem real.
Aos cuidados de uma equipe multidisciplinar que inclui professoras, porteiros, auxiliares de sala, cuidadoras, auxiliares de serviços, lavadeiras, merendeiras, gestoras pedagógicas, especialistas, secretárias e assistentes administrativos, o que se pode ver com certeza estampado nos rostos daquelas crianças, desde zero até os cinco anos, é segurança, certeza de estarem sendo amadas e cuidadas mesmo quando estão longe do seio familiar.
Trazendo uma memória afetiva, talvez se torne até mais simples explicar a emoção sentida na letra de uma música que fala de uma “criança feliz. Feliz a cantar. Alegre a embalar seu sonho infantil. Oh! Meu bom Jesus, que a todos conduz, olhai as crianças do nosso Brasil”. (Turma Do Re Mi).
Rotina organizada – João Pessoa tem 98 Ninhos do Saber. São mais de 18 mil crianças nas creches e pré-escola. Equipes multidisciplinares que, somadas, contabilizam 1.806 trabalhadores na Educação Infantil, sem contar os 700 cuidadores sociais, todos unidos para cumprir uma rotina que começa às 7h e só termina às 17h quando os pequenos voltam para suas casas.
Tudo pensado e inserido em instalações adequadas para o desenvolvimento de acordo com as faixas etárias. Uma política educacional de acolhimento, aconchego, carinho, atenção, amor e respeito. A celebração da inclusão e valorização das diferenças é outro fator a ser narrado, mas dessa vez pela diretora do Departamento de Educação Infantil Municipal, professora doutora Maria Sonaly Machado de Lima.
“O Ninho do Saber é pensado para cuidar e educar. Tudo o que é feito é pensado, foi estudado por alguém. Estudado pelas próprias profissionais da unidade que têm o seu momento de planejamento, que começam a refletir na formação das suas ações pedagógicas e tentam colocar em prática as teorias que elas vão discutindo lá. Não é nada engessado, é no tempo de cada salinha, porque a gente não pode comparar o tempo do berçário ao tempo do maternal dois, por exemplo, que já são as crianças de três anos. Tudo vai de acordo com a faixa etária e vai se moldando àquela turminha”, explicou Sonaly Machado.
A estrutura física dos Ninhos do Saber é formada por salas de aulas, refeitórios, pátio, jardins, banheiros acessíveis, brinquedotecas, horta medicinal, parques e até um campinho de futebol onde meninas e meninos jogam juntos. Tudo muito colorido, arejado e limpo.
E já que a rotina dos pequenos começa cedo é preciso ter muita criatividade. Com organização, tudo funciona perfeitamente. Primeiro eles trocam de roupa e seguem para tomar o café da manhã. Em seguida, retornam para sala de aula ou para os espaços de convivência para seguir a rotina pedagógica das vivências. Já no intervalo, uma pausa para o lanche da manhã.
As atividades prosseguem até que chega o momento do banho, depois almoçar e uma boa soneca. Já de volta à ativa, novas atividades, lanche da tarde, mais atividades, banho, jantar e ir para casa. Ah, e como vocês podem ver, são cinco refeições por dia, todas pensadas por um nutricionista que prepara um cardápio semanal tornando a comida variada, saudável e atraente para todas as crianças.
“Cada professora tem um jeito de esperar as famílias, às vezes contando histórias, às vezes brincando, mas é mais ou menos essa rotina. Cada turma tem sua rotina, porque cada faixa etária tem um tempo pedagógico. O tempo do bebê se alimentar, tomar banho, de fazer as vivências é completamente diferente do tempo dos meninos do maternal, por exemplo, quando as crianças já têm mais autonomia. Na educação infantil a gente sempre tem essa discussão de falar dos tempos e dos espaços e que eles sejam respeitados”, ressaltou Sonaly.
Crianças do hoje – A educação é uma evolução constante. O cuidar de hoje vai refletir no futuro e para isso é preciso tornar as crianças mais autônomas, com pensamentos críticos, solidários, de integração. Esse é o pensamento da gestora pedagógica do Ninho do Saber Olga Maria, Elisângela Araújo. Ela sabe que não tem como garantir uma sociedade mais justa se a formação do cidadão não começar ainda na infância.
“A gente sabe que a educação infantil hoje é completamente diferente da educação infantil de um tempo atrás. A aplicabilidade de hoje para refletir no futuro é a melhor perspectiva possível. Eu não consigo descrever em palavras, mas a projeção é muito positiva de pensar que não é mais só o cuidar, mas o educar e educar o ser crítico”, enfatizou.
A interação com os amiguinhos é importante nesse processo. “Quando a criança passa a interagir com outras da sua idade, ela acaba evoluindo pedagogicamente e cognitivamente. E o emocional também vem junto”, falou Elisângela Araújo.
Desenvolvimento integral – A criança que mora em João Pessoa e está inserida na rede municipal de educação tem acesso a um desenvolvimento integral. A secretária de Educação e Cultura da Capital (Sedec), América Castro, deixa claro que a Secretaria tem orientado um trabalho pautado no desenvolvimento integral da criança, desde bebê, fomentando o desenvolvimento intelectual, físico, cognitivo e social do cidadão.
“Tudo isso através de espaços pautados no cuidar e no educar, pelo material didático pedagógico, uso de novas tecnologias, pela rotina de cuidados envolvendo desde ações com a higiene pessoal até as cinco refeições diárias e pela formação continuada nos serviços oferecidos aos profissionais da Educação, que ressignifica o olhar para as práticas pedagógicas do cotidiano da Educação Infantil”, salientou.
Encerramos essa reportagem concluindo que as falas aqui expostas, todas elas, casam muito bem com o pensamento da educadora Maria Montessori, considerada por muitos estudiosos a precursora do método que transformou a Educação Infantil caracterizado pela valorização da autonomia e liberdade, com limites e respeito pelo desenvolvimento da criança.
Montessori dizia que “a prova do sucesso da nossa ação educativa é a felicidade da criança”.
Fotos: Quel Valentim
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